/
/
A ultrassonografia poderia agilizar as consultas de pediatria na atenção primária

A ultrassonografia poderia agilizar as consultas de pediatria na atenção primária

O uso mais frequente da ultrassonografia poderia agilizar as consultas de pediatria na atenção primária, concluiu um editorial publicado no periódico Anales de Pediatría.

O termo “ultrassonografia clínica” (ultrassonografia à beira do leito) é uma referência ao uso do exame no momento da avaliação clínica do paciente. “Não se trata de fazer uma ultrassonografia sistemática, a ultrassonografia à beira do leito ajuda a responder a perguntas concretas que o médico fez quando realizou o exame físico do paciente”, disse a Dra. Susana Viver Gómez, autora do editorial e pediatra vinculada ao Centro de Salud Dr. Luengo Rodríguez, na Espanha.

A autora destacou que este exame diagnóstico tem uma utilidade inquestionável na consulta de atenção primária, pois se trata de uma ferramenta inofensiva, portátil e com boa relação de custo-efetividade que permite observar em tempo real o quadro do paciente, sem necessidade de transferência. Além disso, seu uso fornece uma melhor e maior aproximação diagnóstica e permite uma tomada de decisão mais rápida e precisa.

Para o atendimento pediátrico, o uso da ultrassonografia agiliza a consulta, melhora a segurança diagnóstica e evita outros exames complementares, com benefício direto para o paciente. Além disso, a autora destaca que, para um pediatra treinado, não leva a aumento excessivo do tempo de consulta.

Ultrassonografia pulmonar

O uso da ultrassonografia clínica é especialmente vantajoso no caso da avaliação pulmonar. Isso porque não é necessário um amplo conhecimento de anatomia, pois é suficiente conhecer a localização do pulmão e as estruturas da parede torácica.

 “No caso da ultrassonografia pulmonar, a curva de aprendizagem [para fazer o exame e analisar os resultados] é muito curta, é fácil de aprender e é acessível para muitos médicos. Outros tipos de ultrassonografia são muito mais difíceis”, declarou a Dra. Susana. “Além disso, a ultrassonografia pulmonar é muito útil na pediatria, porque os casos de pneumonia são muito frequentes nas crianças e são fáceis de diagnosticar por meio desta técnica.”

A ultrassonografia pulmonar tem sensibilidade de 95% e especificidade de 96% no diagnóstico da doença em crianças, sendo de 87% e 98%, respectivamente, as da radiografia. “Apenas alguns poucos casos de pneumonia que não tocam a pleura não são visíveis por ultrassonografia”, pontuou.

Numerosos estudos demonstraram a alta precisão diagnóstica da ultrassonografia pulmonar em várias afecções clínicas. Conforme descreveu a Dra. Susana, o exame tem sensibilidade de 94% e especificidade de 96% na detecção de efusão pleural. Por outro lado, no diagnóstico de pneumotórax, sua precisão é semelhante ou superior à da radiografia.

“Temos que começar a cultivar a ideia de que a ultrassonografia pulmonar nos dá mais informações do que uma radiografia”, escreveu. Destacou, ainda, que esta técnica é mais rápida: “Em mãos experientes, em menos de cinco minutos é possível completar o exame e realizar o diagnóstico apontando o local exato da lesão e sua dimensão e, além disso, sem usar radiação”.

Além da ultrassonografia pulmonar, a especialista constatou que muitas outras análises ecográficas têm uma grande utilidade na consulta de atenção primária. Entre outras, a ultrassonografia cutânea, que em alguns casos permite evitar a realização de biópsias, e a musculoesquelética, porque evita o uso de radiação ionizante.

Ferramenta pouco usada

Em seu editorial, a Dra. Susana fez uma revisão de algumas perguntas sobre o uso da ultrassonografia pulmonar realizada por pediatras no âmbito nacional espanhol. “Em 2018, com 273 participantes, apesar de 47% dos entrevistados terem realizado formação em ultrassonografia, apenas 18% revelaram usá-la em sua prática diária”, escreveu.

Em outra pesquisa feita este ano e ainda em processo de publicação, de 212 pediatras consultados que tinham um aparelho de ultrassonografia à sua disposição, apenas 28% o usariam diante da suspeita de pneumonia. A médica concluiu que a ultrassonografia — em particular, a pulmonar —, apesar da sua utilidade, segue sendo uma ferramenta pouco usada. “Mesmo que a evidência científica esteja do lado da ultrassonografia, [os médicos] seguem usando majoritariamente a radiografia como ferramenta diagnóstica”, destacou em um comunicado de imprensa.

“Atualmente, em poucos hospitais se inclui a ultrassonografia como parte da formação de residentes, pelo menos em pediatria. Há especialidades que o fazem há muitos anos, por exemplo, a ginecologia, mas na maioria das especialidades estamos mais atrasados. Diante de uma ferramenta com tantos benefícios, fácil de usar e cada vez mais acessível, temos que trabalhar para conseguir incorporá-la na nossa prática diária. Isso é necessário para a formação dos pediatras — tanto no ambiente hospitalar como na atenção primária — e deve, portanto, ser incluída nos programas de formação de residentes”.

Este conteúdo foi traduzido de Univadis Espanha – Medscape Professional Network